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Supostamente agindo pelo bem da Igreja, há católicos que apedrejam virtualmente tudo e todos que forem ‘diferentemente católicos’
Não há como negar: o Brasil vive uma onda de intolerância manifestada sobretudo nas redes sociais e em relação a vários temas. E o que é mais lamentável é que esta onda se espalha também entre os fiéis católicos.
O portal A12 está debatendo o o assunto e publicou a opinião do professor e doutor em Ciências da Comunicação Moisés Sbardelotto. O professor lembra que o próprio Papa Francisco, em sua recente exortação apostólica Gaudete et exsultate, dedicou um parágrafo inteiro a esse “pecado digital”:
“Pode acontecer também que os cristãos façam parte de redes de violência verbal através da internet e vários fóruns ou espaços de intercâmbio digital. Mesmo nas mídias católicas, é possível ultrapassar os limites, tolerando-se a difamação e a calúnia eparecendo excluir qualquer ética e respeito pela fama alheia”, pontuou o Papa.
Segundo o professor, quando a intolerância explode nas redes, a pessoa que está do outro lado da tela já não é mais um “irmão ou irmã na fé”, mas apenas alguém sobre o qual se descarrega toda a raiva e rancor pessoais, camuflados de defesa da tradição, da doutrina, da liturgia, de um posicionamento político, com citações artificiosamente pinçadas da Bíblia e do Catecismo para tentar justificar o injustificável, ou seja, a própria intolerância.
Aponta o professor:
“Não se trata apenas de não tolerar alguém, o que já seria uma atitude não-cristã. O problema é a raiva, o ódio, a agressão, o desejo de ‘morte simbólica’ da outra pessoa. Supostamente agindo pelo bem da Igreja e a salvação das almas, esses cristãos e católicos apedrejam simbolicamente tudo e todos que forem ‘diferentemente católicos’, inclusive o Papa, se acharem necessário. São verdadeiros ‘linchamentos em rede’ por parte de certos católicos, que se arrogam o direito – e até o dever –, em nome da ‘sã doutrina’, de atirar a primeira pedra. Prega-se a exclusão de tudo o que seja ‘catolicamente diferente’ e de todos os ‘catolicamente outros’”.
Além disso, ele acrescenta que, na mesma exortação apostólica, o Papa Francisco afirma que o testemunho de santidade, no nosso mundo acelerado, volúvel e agressivo, é feito de paciência e constância no bem. E também envolveria a alegria e o senso de humor. Diante da violência em rede, não é necessário manter uma atitude retraída, tristonha, amarga, melancólica. O mau humor não é sinal de santidade. Sem perder o realismo, afirma o Papa, “o santo ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança. Ser cristão é ter alegria no Espírito Santo”.
Então, responder ao chamado à “santidade digital” é reconhecer que, por trás das telas dos computadores, tablets e celulares, de seus números e dígitos, estão pessoas humanas.
“Está o nosso próximo, a quem devemos servir e amar. Em rede, o santo digital age, interage e reage, se for preciso, sempre a partir da fé e da caridade”, conclui o professor.
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