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O dia 2 de novembro, no qual comemoramos o Dia de Finados, é marcado por um rito especial: a visita aos túmulos onde foram depositados os restos mortais daqueles que fizeram parte de nossa vida e a oração por eles. O cemitério é o lugar onde os opostos convivem: o lugar é de silêncio, mas nos fala muito; tudo recorda a morte, mas, não de menos, a vida terrena e a vida eterna. A visita ao cemitério, ao mesmo tempo, fala dos que já partiram, de nós mesmos e também de Deus.
Em primeiro lugar é dia de memórias. Muitas vezes ainda é uma recordação dolorida, quando o luto ainda não foi integrado e a dor da separação ainda não foi curada. Então, cada túmulo é o ponto humano de conexão com tantas histórias, lugares, ensinamentos, alegrias e cruzes, que ainda permanecem vivas. Eles permanecem vivos na memória. Nossa oração por eles e as flores que depositamos são manifestações de nossa gratidão a Deus e a eles. Que importante ter uma memória agradecida por aqueles que nos antecederam. Continuamente, nos recordam que a história não iniciou quando nós nascemos. Eles nos precederam e nos ensinaram a viver. Por isso, alguém só morre quando ninguém se lembra mais dele.
Mas o silêncio dos que já partiram nos fala muito e fala também sobre nós, sobre nossa condição humana. Com certeza, a morte é a realidade humana que mais devemos tematizar e refletir. Nós sempre vivenciamos a morte dos outros. Mas a verdade inquestionável de nossa morte é o ponto a partir da qual lemos toda nossa vida. Embora para um mundo que preza por uma vida de fruição ilimitada a perspectiva da morte é propositalmente esquecida, no entanto, ela é certa. Aqui acabam todas as divisões sociais. A morte nos torna todos iguais. Recorda-nos a relatividade da vida terrena e a definitividade de cada dia, cada escolha, cada ato, visto que, como nos diz a Escritura, “todo homem está destinado a morrer uma só vez” (Hb 9,27). Mas, também, se formos sinceros, revela nossa mesquinhez e põe por terra todo orgulho e as pretensões humanas, como disse Jesus: “Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?” (Lc 12,20). Recordar da morte nos torna humildes e responsáveis.
Enfim, o Dia de Finados nos fala de Deus, de sua misericórdia e de seu infinito amor que a todos atrai a si, no seu Filho Jesus. No seu Filho, Deus vence a morte definitivamente, quando ressuscitou-o. Na visão cristã, morremos para viver. O que nos aguarda não é o fim de tudo, nem o nada, nem um retorno à natureza, mas os braços acolhedores de Deus Pai, que nos quer consigo. É a vida eterna, estar definitivamente com Ele.Com a morte deixamos “a mansão deste corpo para ir morar junto do Senhor” (2Cor 5,8); “se com Ele morremos, com Ele vivemos” (2 Tm 1, 22). Disse Jesus: “hei de levar-vos para junto de mim, a fim de que, onde Eu estou, vós estejais também” (Jo 14, 3).
Portanto, ao recordarmos nossos queridos que já partiram, iluminados pela morte-ressurreição de Cristo, abre-se para nosso viver a esperança. O sentido para o presente vem do futuro, da promessa da vida eterna. O cristão é portador de esperança. Vale a pena ser justo, ético, caridoso, fazer o bem e viver cada dia intensamente.
Por Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta
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