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Cabe aos católicos manter vivo o significado genuíno da Semana Santa e da Páscoa. Não esperemos isso dos que não são cristãos ou católicos, explica o cardeal Dom Odilo Scherer
Há várias semanas, os anúncios comerciais chamam para as compras no mercado da Páscoa. Mas os ovos de chocolate, neste ano, andam muito caros… A inflação e a crise econômica incidiram pesadamente no doce comércio de Páscoa!
E o bacalhau, nem se fala! Os preços estão proibitivos. Sem bacalhau, será uma Sexta-feira da Paixão sem graça? Como se pode passar a Sexta-feira Santa sem comer uma pratada abundante de bacalhau? Ainda não entendi por qual razão precisa ser justamente nesse dia, quando a Igreja convida todos os que podem a fazerem um dia de penitência, de jejum e abstinência de carnes… Alguém dirá que bacalhau não é carne… Como assim? Se carne de frango é carne, a de peixe, o que é?
Parece que a preocupação maior desta Semana Santa é preservar alguns costumes culinários ou gastronômicos… Certo, Páscoa é festa grande e é justo que se faça uma refeição festiva; mesmo com poucos recursos e boa dose de criatividade, na Páscoa é possível fazer festa com a família e os amigos!
Não seria bom ir um pouco além da cozinha e da mesa? O que torna esta Semana especial é o fato de ela ser “santa”, ou seja, reservada especialmente para Deus e as coisas da fé. Nela, deveríamos dedicar um tempo maior à oração, à busca de Deus, mesmo através de uma boa revisão da vida, tentando perceber a quantas andam as coisas com a vida da gente.
Nem todos têm a nossa visão das coisas; quero dizer, a visão dos católicos. É compreensível e não queremos impor nada a ninguém. Falamos aos católicos, para o “povo de casa”… Tomemos consciência de que os dias feriados e a festa da Páscoa, com suas manifestações culturais, são de origem cristã. Cabe a nós, preencher de sentido estas festas e comemorações, que se estenderam para dentro da cultura.
Poderá acontecer, se já não está acontecendo, que as tradições cristãs e católicas, pouco valorizadas e cultivadas até por católicos, vão perdendo o seu significado originário, que é alterado e até substituído por práticas que nada têm a ver com essas festas e tradições culturais cristãs. Cabe aos católicos manter vivo o significado genuíno da Semana Santa e da Páscoa. Não esperemos isso dos que não são cristãos ou católicos.
No mundo plural de hoje, quem não tem convicções firmes e conceitos claros acaba sendo absorvido pelo ambiente… E já vamos percebendo sempre mais que, em lugar das procissões da Sexta Feira Santa, vão aparecendo ruidosas manifestações de massa, por vezes, bem pertinho de nossas igrejas e procissões… Esta é a hora das convicções firmes e da consciência clara das nossas próprias manifestações de fé!
A Semana Santa, que deveria ser um tempo mais voltado para a oração e para a participação nas celebrações da Igreja, vai se tornando sempre mais uma ocasião para um feriadão estendido, viagens e todo tipo de programas, sem mais nenhuma marca cristã… Fica estranho ver as igrejas meio vazias no Domingo da Páscoa da Ressurreição, justamente quando elas deveriam estar mais cheias que nunca!
Na Semana Santa somos confrontados com o infinito amor de Deus, que amou tanto o mundo, ao ponto de lhe enviar seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça para sempre, mas tenha a vida eterna. E somos colocados diante do amor de Cristo por nós, um amor sem reservas, “até o fim”: Ele desceu ao fundo do poço da miséria humana para estender a mão do perdão e da misericórdia de Deus a todos…
Na Semana Santa, deixemo-nos envolver de graça e de perdão; e, com São Paulo, deixemo-nos mover por este pensamento: “Ele me amou e por mim se entregou na cruz!” E renovemos nossa adesão de fé e nossa disposição de segui-lo nos caminhos da vida. Vida que se renova na sua paixão, morte e ressurreição. E nada impede que também se faça festa na Páscoa! Apesar de ser com menos chocolate e bacalhau…
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo
Por Canção Nova
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